Casar é conjugar e reside aí o fato de o casal encerrar, ao mesmo tempo, duas individualidades. Na prática, isso equivale a anular (se a palavra é pesada podemos usar relevar, conceder, transformar, etc) dois sujeitos, dois desejos, duas visões de mundo, duas histórias, dois projetos de vida e duas identidades individuais numa única identidade conjugal, em um mesmo desejo conjunto, em uma história de vida conjugada, um projeto de vida de casal, um só objetivo. No Brasil, até a certidão de nascimento, prova cabal de que minha pessoa existe, é substituída pela certidão de casamento.
Conforme cita Terezinha Féres-Carneiro, Berger e Kellner descrevem o casamento como um ato dramático, no qual dois estranhos, portadores de umpassado individual diferente, se encontram e se redefinem. Na troca de idéias, no diálogo e na conversação conjugal, a realidade subjetiva do mundo é sustentada pelos dois parceiros, que vivem confirmando e reafirmando a realidade objetiva internalizada por eles. O casal constrói assim, não somente a realidade presente mas,reconstrói a realidade passada, fabricando uma memória comum que integra os dois passados individuais.
Evidentemente a individualidade é boa e desejável mas, "Ter seu próprio espaço, preservar seu próprio eu, ter autonomia, tudo isso ganhou tanta força que acabou corroendo o casamento" explica Terezinha Féres-Carneiro. No casamento tradicional e durável, é fundamental que um saiba sim da vida do outro. Não só da vida, mas dos sentimentos, carências, conflitos... Há necessidade de conhecer-se e sentir prazer com esse conhecimento recíproco e mútuo.
O psicanalista Flávio Gikovate, Diretor do Instituto de Psicoterapia de São Paulo, atendeu 7.000 casais em 32 anos de clínica e pode afirmar que "ninguém consegue passar muito tempo convivendo trinta dias por mês, doze meses por ano, com quem não compartilha dos mesmos interesses, hábitos e valores".
FONTE: Ballone GJ
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